Cerca de 700 mil casos são registrados em média no Brasil todos os anos, sem contar os casos não notificados.
A redução dos casos de afastamentos de trabalhadores em decorrência de acidentes de trabalho ainda é um desafio no Brasil. Segundo Ronaldo Lira, procurador do trabalho e vicecoordenador nacional da Coordenadoria de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho (Codemat), infelizmente há muito pouco o que comemorar em relação ao número de iniciativas de prevenção que deram certo no mercado. A impunidade ainda é grande entre as empresas que não cumprem a responsabilidade de fornecer e fiscalizar o uso de equipamentos de proteção e à adoção de práticas preventivas.
Segundo dados do governo federal, cerca de 700 mil casos de acidentes de trabalho são registrados em média no Brasil todos os anos, sem contar os casos não notificados oficialmente, de acordo com o Ministério da Previdência. O País gasta cerca de R$ 70 bilhões nesse tipo de acidente anualmente.
Entre as causas desses acidentes estão maquinário velho e desprotegido, tecnologia ultrapassada, mobiliário inadequado, ritmo acelerado, assédio moral, cobrança exagerada e desrespeito a diversos direitos. Os acidentes mais frequentes são os que causam fraturas, luxações, amputações e outros ferimentos. Muitos causam a morte do trabalhador. A atualização tecnológica constante nas fábricas e a adoção de medidas eficazes de segurança resolveriam grande parte deles.
Na sequência, aparecem os casos de lesões por esforço repetitivo e Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/Dort), que incluem dores nas costas. A prevenção se dá por correções posturais, adequação do mobiliário e dos instrumentos e dosagem da carga de trabalho.
A impunidade ainda é grande entre as empresas que não cumprem suas responsabilidades
Em terceiro lugar, aparecem os transtornos mentais e comportamentais, como episódios depressivos, estresse e ansiedade. Segundo Remígio Todeschini, diretor do Departamento de Políticas de Saúde e Segurança Ocupacional do Ministério da Previdência Social, esses são os problemas de solução mais complexa.
Façanha
Algo raro no meio industrial é manter uma operação sem afastamento de trabalhadores no quadro por acidente de trabalho. A Invista, empresa de Paulínia, que atua na área de polímeros e fibras completa 39 anos sem acidentes com afastamento na planta industrial. O gerente de Segurança, Saúde e Meio Ambiente da fábrica, Mário Cuin, destaca que a façanha é resultado de ações efetivas e da colaboração e a conscientização de todos em relação à prevenção de acidentes e controle de riscos.
A realidade da empresa de Paulínia é bem diferente dos números apurados pelo Ministério Público do Trabalho, que somente nos últimos quatro anos e primeiro semestre de 2013 investiga 80 empresas na Região Metropolitana de Campinas (RMC) por possível responsabilidade em acidentes de trabalho.
No caso da Invista, não se trata de uma conquista preventiva favorecida em uma atividade livre de risco. Ao contrário, o gerente de operações da planta da Invista, Sergio Soares Stella, explica que assim como em outras indústrias, a Invista enfrenta riscos na manipulação de produtos químicos e materiais com altas temperaturas, durante trabalhos realizados em altura e com materiais pressurizados. Há, ainda, maquinários pesados e operação de equipamentos rotativos de alta velocidade.
O assunto, segundo Stella, é analisado separadamente de outros projetos de qualidade ou produtividade, por exemplo. “Essa premissa é levada em conta em todas as atividades que fazemos”, garante. Na empresa o lembrete de segurança é: “um bom dia em operações começa sempre com um ritual de segurança”, completa o executivo.
Realidade
No ano passado, os acidentes de trabalho mataram mais de uma pessoa por dia no Estado de São Paulo. Um levantamento do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador e da Divisão de Saúde do Trabalhador da Vigilância Sanitária Estadual registra 444 mortes no Estado em decorrência de acidentes dessa natureza.
Acidentes de trabalho geraram no último ano 70 atendimentos por dia nos ambulatórios ou emergências do Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, apenas no último ano foram feitos 25.486 atendimentos de acidentados em locais de trabalho. O que ocorre é que as estatísticas estão aquém da realidade por conta da subnotificações de ocorrências.
De acordo com Ronaldo Lira, procurador do trabalho e vice-coordenador nacional da Coordenadoria de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho (Codemat), a legislação no Brasil é razoavelmente boa, mas falta sua efetivação no ambiente de trabalho. A principal obrigação do empregador é promover a proteção coletiva no ambiente de trabalho, o que é muito dispendiosa à empresa que recorre ao uso de equipamentos de proteção individual. “Se as empresas fizessem o mínimo, não teríamos a metade das mortes e dos afastamentos precoces, muitas pessoas com menos de 30 anos com lesões e outras aposentadas por invalidez antes dos 40 anos”, aponta o vice-coordenador do Codemat.
Há uma epidemia de doentes com problemas variados decorrentes de acidentes de trabalho, lesões por esforço repetido e saúde mental. Uma coisa está ligada à outra, defende Lira. Para exemplificar, a dor leva à depressão e ao afastamento do trabalho, desligamento e ao desemprego que acaba alimentando a situação. Após anos de fiscalização, denúncias e multas alguns setores do mercado apresentam melhorias em relação à prevenção de acidentes de trabalho e ambiente para o trabalhador. Na zona rural, por exemplo, as propriedades rurais passaram a oferecer banheiros, refeitório e abrigo contra a chuva.
Fonte: Jornal Correio Popular, Caderno Empregos, 18/8/2013 – Jornalista Sheila Vieira, Agência Anhanguera